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Tragédia na Caixa: família quer investigação sobre elo entre morte de diretor e escândalo de assédio

Dois dias antes de morrer, Sérgio Faustino pesquisou sobre improbidade administrativa — ele queria saber sobre as penas e os prazos de prescrição. Uma última pesquisa sobre o assunto foi realizada na noite da morte.

 


No pedido feito ao Ministério Público para que a investigação seja aprofundada, a família de Sérgio Faustino reclama por não ter tido acesso, na Polícia Civil, à íntegra dos arquivos dos celulares e computadores dele que foram copiados pelos peritos. As advogadas pedem ao MP que garanta que os arquivos sejam preservados para novas averiguações.

 


Os questionamentos da família
A petição lista vários questionamentos sobre a investigação, a partir de pontos que, na visão dos familiares do ex-diretor, não teriam sido examinados a contento.

 


Falando em nome da viúva de Faustino, as advogadas observam que as mensagens e as pesquisas reproduzidas nos autos fazem “solidificar a certeza de que algo de muito sério atormentava seu marido e que passou a ser por ele fonte de preocupações desde o advento do midiaticamente batizado Escândalo de Assédio Sexual na Caixa envolvendo o então presidente, Sr. Pedro Guimarães”.

 


Eis alguns dos pontos levantados pelas advogadas Soraia Mendes e Ana Maria Martínez na peça dirigida aos promotores do Ministério Público:
“A vítima era um homem profundamente religioso. Tranquilo, bem-humorado. Reconhecidamente de conduta profissional ilibada. Não possuía dívidas. Sem histórico de doenças mentais, ansiedade, depressão. Irmão zeloso. Pai presente e cuidador. Filho atencioso e dedicado. E casado há 20 anos com a peticionária em um relacionamento marcado pelo amor, pela cumplicidade e, sumamente, pela lealdade.”

 


“De todas as buscas na internet realizadas pela vítima, o que realmente salta aos olhos é que dos dados extraídos constem de modo significativo, inclusive no dia de sua morte, em 19/07/2022, pesquisas reiteradas sobre improbidade administrativa, prevaricação, violação do segredo profissional e, de modo muito saliente, a busca sobre o possível acobertamento de criminosos.”
“Sem fazer qualquer afirmação, mas de, respeitosamente, compartilhar com Vossa Excelência interrogações, no caso da vítima, profissional reconhecidamente de integridade inabalável, não seria desonroso ver-se emaranhado em um escândalo de improbidade, prevaricação, violação de segredo profissional? Não seria vexatório, hipoteticamente falando, ter de acobertar um criminoso? Não seria insuportável imaginar ter na porta de sua casa agentes de polícia com mandados a serem cumpridos a título de uma – hipotética – operação decorrente da gestão da Caixa?”

 


“Todos esses acessos (a peça se refere, aqui, às pesquisas feitas pelo ex-diretor na internet) chamam atenção. Entretanto, em especial, é de se olhar com lupa a pesquisa à página “Acobertar um criminoso procurado é crime?”, realizada em 30/06/2022, às 22:51 – dia seguinte ao pedido de demissão do então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, ocorrida em 29/07/2022, em meio à série de denúncias de assédio feitas por funcionários/as contra ele. Neste exato dia 30/06/2022 – algo que, desafortunadamente, não se tem como precisar se é objeto de investigação em outros expedientes – teria ocorrido, nas dependências da CEF, uma tensa reunião com integrantes das diretorias chamada e protagonizada por este mesmo Sr. Pedro Guimarães, àquela altura já não pertencente aos quadros da empresa.”

 


 
Mistério: número de telefone transferido
A petição relata, ainda, que a viúva de Faustino levou ao conhecimento da polícia um episódio estranho que não foi incluído nos autos: o número do celular particular do ex-diretor da Caixa, que fazia parte de um plano familiar e seguia ativo mesmo depois da morte dele, de repente foi excluído pela operadora de telefonia.
Quando a família foi buscar explicações, recebeu a informação de que o número de Brasília havia sido transferido por portabilidade, e sem a devida autorização, para um usuário no estado do Piauí. Na sequência, a viúva de Faustino pediu o número de volta. Ela observa, porém, que nesse meio tempo as mensagens de WhatsApp e os e-mails do ex-diretor da Caixa podem ter sido copiados. As advogadas pedem que a transferência do número seja também investigada.

 


A coluna apurou que o Ministério Público está analisando o caso e decidirá em breve se acolhe o pedido da família para que as investigações prossigam.

 


Procurado, o delegado Alexandre Godinho, responsável pela apuração, disse que aguarda a manifestação dos promotores. “O Ministério Público vai se manifestar sobre o arquivamento ou não. Por enquanto é só aguardar. O caso é de suicídio (…) Estão querendo achar justificativas… Mas somente quem faleceu saberia informar. É suicídio clássico”, afirmou.

 


Por tudo o que há no inquérito, parece não haver dúvidas de que se trata mesmo de um suicídio. Mas pelo pouco que há nos autos sobre o que pode ter levado o ex-diretor da Caixa a tirar a própria vida, com indícios inquietantes de que questões internas do banco o atormentavam, é imprescindível que isso também seja devidamente analisado pelas autoridades — talvez até pelas autoridades federais encarregadas de investigar o escândalo de assédio.

 

Busque ajuda

 


O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.
Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.
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Fonte: Metrópoles

Crédito imagem: Freepik

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