E agora, Pedro?
“A Caixa também contratou um escritório de advocacia para fazer uma apuração paralela, cujos resultados já deveriam ter sido divulgados. Mas, como não houve divulgação até o momento, não sabemos se foi ou será decretado 100 anos de sigilo sobre o mesmo”, ironizou o empregado da Caixa e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Rafael de Castro. “Pedro Guimarães era braço direito do presidente da República e chegou a ser cotado para o cargo de vice na chapa que disputa as eleições. A ligação entre os dois é muito grande, vai que ‘pinta um clima’ e ele consegue um decretozinho de sigilo sobre o caso”, completou.
O resultado da investigação feita pela corregedoria interna da Caixa será compartilhado com o Ministério Público Federal (MPF) e com o Ministério Público do Trabalho (MPT), que também apuram as denúncias. O MPT, inclusive, já entrou com ação contra o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e pede que a Justiça o condene ao pagamento de R$ 30,5 milhões pelos danos causados às mulheres que o acusam de assédio moral e sexual. Os recursos devem ser revertidos a um fundo de proteção dos direitos dos trabalhadores.
Interferência nas investigações
A corregedoria tem autonomia para conduzir a apuração, mas, segundo o portal Metrópoles, investigadores do Ministério Público foram informados de que houve pressão de pessoas ligadas à antiga cúpula do banco para que o relatório não reforçasse as denúncias de assédio.
O mesmo portal também informou que o motorista de confiança de Pedro Guimarães havia sido colocado como agente de segurança na entrada da sala destinada para receber as mulheres que queriam fazer denúncias de assédio.
“Havia sido garantido o sigilo da identidade das vítimas que fizessem as denúncias. Aí colocam o cara de confiança do denunciado para fazer a ‘segurança’ do local?! É um absurdo!”, disse indignada a empregada e diretora executiva da Contraf-CUT, Eliana Brasil.
Segundo o portal, o caso foi levado ao conhecimento da corregedoria e o ex-motorista de Pedro Guimarães afastado do local.
Para de Castro, o caso do segurança é mais uma mostra de que a Caixa está apenas tentando abafar o caso sem dar a devida solução para o problema e nem responsabilizar os possíveis culpados. “Não podemos dizer que são culpados porque as investigações estão em andamento, mas tudo indica que existem culpados. A nova presidenta da Caixa (Daniella Marques), ao invés de agir com o rigor e a rapidez que prometeu quando assumiu o cargo, parece estar mais preocupada em fazer marketing de produtos voltados ao público feminino, que apenas gera mais demanda e metas para que os empregados cumpram e, de quebra, faz propaganda eleitoral para o atual governo”, disse.
Assédio sexual é crime!
O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, lembra que, no Brasil, assédio sexual é crime, definido no artigo 216-A do Código Penal, que prevê a pena de detenção de um a dois anos.
“Se apurada e comprovada a culpa, não se pode ‘passar a mão na cabeça’ somente porque trata-se de um ex-presidente do banco. Se é culpado, deve responder na Justiça comum pelo que fez, uma vez que o assédio sexual é um crime com pena prevista no Código Penal”, disse o presidente da Fenae. “Além disso, a legislação trabalhista também prevê indenização para reparação do dano causado às vítimas”, completou.